“Mais ia por diante o monstro horrendo
Dizendo nossos fados, quando alçado
Lhe disse eu: Quem és tu? que esse estupendo
Corpo, certo, me tem maravilhado!
A boca e os olhos negros retorcendo,
E dando um espantoso e grande brado,
Me respondeu, com voz pesada e amara,
Como quem da pergunta lhe pesara:
“Eu sou aquele oculto e grande Cabo,
A quem chamais vós outros Tormentório,
Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo,
PlÃnio, e quantos passaram, fui notório.
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nunca visto promontório,
Que para o Pólo Antárctico se estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende.
“Fui dos filhos aspérrimos da Terra,
Qual Encélado, Egeu e o Centimano;
Chamei-me Adamastor, e fui na guerra
Contra o que vibra os raios de Vulcano.
Não que pusesse serra sobre serra,
Mas conquistando as ondas do Oceano.
Fui capitão do mar, por onde andava
A armada de Neptuno que eu buscava. . . .”
(Os LusÃadas, Canto V)